01/06/2010

A inteligência do gato

“Olá gatinho, você quer carinho, não quer?”. Quem de nós já não pensou desta maneira enquanto nosso bichano se enroscava por entre nossas pernas esfregando-se de um lado para outro? Ou então: “Nossa gatinho, quanta satisfação!”, enquanto ele ronronava intensamente a medida que recebia nosso carinho? Como proprietários de gatos, certamente fazemos este tipo de interpretação constantemente. Mas será que estamos corretos? Será que os gatos realmente querem nos dizer estas coisas?

Tudo o que se refere ao gato sempre esteve envolto por muito mistério e crenças antigas. Há quem acredite que a capacidade comunicativa do gato seja tão surpreendente chegando a entrar no mundo mágico, onde o gato se comunicaria telepaticamente e até com elementos que não podemos ver. Fantasias a parte, é claro que os gatos se comunicam entre si e com o mundo mas, diferentemente do cão, é muito mais observador e sua comunicação dá-se de forma muito sutil. Mais do que ser visto e ouvido, o gato busca ver e ouvir muito bem. Sempre atento a tudo o que ocorre em seu ambiente, seus movimentos são devidamente calculados. Não esqueçamos, é claro, das frenéticas e explícitas exibições das fêmeas no cio. Estas sim fogem à regra, não são nada sutis!!

Entre os gatos, destaca-se a comunicação dita não verbal, realizada através de sinais auditivos, visuais e olfativos e até do senso tátil. Utilizando-se de deposições odoríferas (esfregamentos, marcação urinária e até arranhaduras), sinais visuais, posturas corporais e vocalizações específicas, os gatos se comunicam com o mundo. Assim, um gato aparentemente solitário pode estar envolvido em frequentes contatos comunicativos com outros indivíduos sem que possamos perceber. Isso é o que ocorre nos encontros noturnos dos gatos de uma mesma vizinhança. Chegam no começo da noite e colocam-se bem próximos uns dos outros. Lá ficam por horas se observando e até se limpando. Pouca hostilidade e rosnados ocasionais. Sabe-se lá o que estão dizendo um ao outro?!?!?!?

Mas a comunicação felina não é só isso. Assim como ocorre com diversas espécies, o gato também apresenta um repertório próprio de sinais comunicativos. Muitos destes sinais são estabelecidos a partir do convívio estreito entre o gato e o proprietário. Por exemplo, quando o gato está com fome e vê suas vasilhas vazias pode emitir alguns miados sem intenção alguma, só porque esta com fome. Mas o dono, ao ver uma cena destas, pode fazer a seguinte interpretação: “ele deve estar com fome e está miando para me comunicar que está querendo comida”. O que o dono faz? Dá comida para o gato. Se isto ocorrer repetidas vezes o gato pode compreender que um miado simples quando faminto pode modificar o comportamento do seu dono, que se sensibiliza e lhe fornece a comida. Logo, mais do que simplesmente lançar “miados ao vento” o bichano aprende que deve direcionar os miados ao dono. Pronto! O sinal está estabelecido. E o dono conclui: “miados próximos a vasilhas vazias significam pedido de comida”!!!!!!!!.

E é assim que muitos sinais comunicativos são estabelecidos. É claro, alguns não são assim, do tipo aprendidos, mas já nascem com o indivíduo e são por isso denominados instintivos. Por exemplo, o ronronar. Pesquisas revelam que os filhotinhos são capazes de ronronar já no segundo dia de vida. O ronronar faz parte do repertório comunicativo e pode ocorrer por diversas razões, desde contentamento e prazer até apavoramento. Muitos gatos ronronam quando estão próximos da morte e, nestes casos, acreditamos que isto seja devido a um estado intenso de ansiedade e euforia. Alguns gatos podem ronronar em contexto de brincadeira com outros gatos demonstrando assim uma relação amigável e a possibilidade de estarem mais próximos. Outros, ronronam quando diante de outro indivíduo, na iminência de uma briga, demonstrando assim submissão e ausência de intenções agressivas.

O que dizer das posturas corporais, são utilizadas pelo gato com propósitos comunicativos? Provavelmente, sim. À medida que ocorrem constantemente em contextos muito bem definidos e passamos a conhecê-las, podem nos fornecer muita informação a respeito do estado emocional e ate fisiológico do gato. Por exemplo, um gato que balança seu rabo de um lado para outro ou o mantém arqueado ao mesmo tempo que eriça seus pelos procurando parecer maior do que realmente é, certamente está em postura de raiva ou provocação, na iminência de um ataque. O fato é que o gato nem sempre tem a intenção de comunicar algo ao mundo, mas percebe as consequências de suas posturas e passa a usá-las com função comunicativa. A postura e a exibição são inicialmente resultados de seu estado interno de aborrecimento. Outro exemplo é o gato que diante de outro coloca-se rente ao chão e com as orelhas abaixadas procurando não parecer ameaçador. O posicionamento é resultado de seu estado interno de medo ou apreensão constituindo para o outro gato uma atitude submissa.

Portanto, ainda que se comporte de maneira muitas vezes misteriosa, a comunicação do gato é real. É claro que, mais ainda que o cachorro, cada gato é um indivíduo próprio e com temperamentos muito bem definidos. Logo, não é possível pensar em repertórios comunicativos como verdadeiras regras. Eles variam, mas podem sim, guiar nossas atitudes buscando uma maior compreensão do nosso gato e, consequentemente, capacitar-nos para melhor satisfazê-los. Afinal, nosso bichano gosta mesmo é de uma boa mordomia!

Daniela Ramos
médica veterinária especializada em Comportamento Animal pela University of Lincoln (Inglaterra)

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Medo excessivo de ruídos

Existem cães que têm medo excessivo de determinados ruídos... Se imaginarmos que eles têm uma capacidade auditiva quase quatro vezes maior que a nossa, um ruído sem importância para nós pode ser ensurdecedor para eles.

Os ruídos que costumam causar pânico nos animais são fogos de artifício, máquinas de tosa e/ou secadores, trovões, tiros, etc..

Os cães pulam no colo do dono, tremem excessivamente, o coração dispara e eles tentam se esconder em lugares pouco comuns, permanecendo lá sem comer, beber ou sair para fazer suas necessidades...

Alguns donos podem achar isso até engraçado, porém, se o animal tiver alguma alteração cardíaca severa, a taquicardia (aceleramento do coração) que o medo excessivo provoca poderá causar problemas à saúde do animal, principalmente se ele for idoso.

Se fobia a ruídos é o problema do seu amigão e você se preocupa com a reação dele nos dias de fogos ou tempestades, veja as dicas de Cláudia Pizzolato, treinadora de cães diplomada pela NDTA (National Dog Trainers Association) nos USA e proprietária da Lord Cão - www.lordcao.com, no Rio de Janeiro:

Trabalhar com dessensibilização: ter gravado em cassete ou CD os sons que deixam o animal paralisado de medo (à venda no site www.bitcao.com.br). Colocar o som MUITO baixo, quase imperceptível, e motivar o cão a repetir qualquer rotina que ele goste muito, como jogar bolinha, comer biscoito, etc.. No início é preciso fazer estes exercícios num local e horário bastante calmos e neutros. Só devemos passar adiante quando o cão já estiver suportando o barulho que o incomoda, num nível normal.

Não recompensar involuntariamente: é preciso ter muito cuidado para não dar carinho e atenção ao animal quando ele estiver com medo para não recompensá-lo, involuntariamente, por ter medo. Nada de tentar acalmar o cão ou segurá-lo no colo. Em último caso é preciso deixar um local preparado para que o animal possa se esconder e sentir seguro, como numa toca.

Usar medicação: alguns veterinários preconizam doses diárias de antidepressivos, ministrados nos dias em que se suspeita que haverá ruídos que causem pânico ao cão. A medicação tem que ser dada antes do cachorro começar a ficar apavorado e pode evitar crises médias ou leves de pânico. Para casos graves de fobias causadas por sons, como fogos de artifício, tempestades, trovões ou armas de fogo, outras drogas podem ser utilizadas, sempre a critério e sob prescrição do veterinário.

Segundo Cláudia, o medo excessivo de ruídos é um dos problemas mais difíceis para serem tratados em comportamento canino, especialmente em casos graves. De qualquer forma vale a pena tentar.

No caso de cães que se estressam com o barulho de máquinas de tosa e secadores, utilize chumaços de algodão nos ouvidos do animal, para diminuir o ruído. Isso também pode ser tentado em dias de tempestade ou fogos de artifício. Mas é claro, esse "truque" não terá efeito algum em animais extremamente medrosos.

Procure assegurar-se que o cão não possa fugir em momentos de grande manifestação de medo. É comum os animais se desesperarem e saírem em disparado em direção à rua. Prenda o cão em dias de comemorações com fogos e rojões.

Consulte o veterinário que trata do seu animal. Caso ele julgue conveniente, medicará o seu animal para enfrentar o medo ou encaminhará você a um especialista em comportamento para tratar seu cão. Associando as medicações alopática, homeopática ou alternativa (Florais de Bach), a uma mudança de postura do dono em relação ao cão, há chances dele superar a fobia.

Silvia C. Parisi
médica veterinária - (CRMV SP 5532)

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